sábado, 15 de agosto de 2015

Sem "A"


Estou querendo um encontro comigo
Sem perder o sentido de viver
Busco nesse momento crescer
Sem correr nenhum perigo

Simplesmente sorrir com o sol
Com seu brilho me cobrir
Sonho sem mesmo dormir
Protegido pelo meu próprio lençol

Construindo dum sorriso o universo
Dum beijo um novo mundo
Ou mesmo nesses meus versos

O ser e o ter que sempre confundo
Do injusto me disperso
Todo meu eu invento num segundo

EU E A POESIA


Quando nasci já vim grávido pra te ter
E juntos crescemos em parceria
Ao teu lado vivi as melhores alegrias
Apenas você soube e sabe me  entender

Às vezes nos fizemos carne e unha
Você era eu e eu era você
E a vida tentávamos compreender
Como vítimas, cúmplice e testemunha.

De você fiz meu alto-retrato
Esculpido com singela maestria
Em folhas de papel barato

Marca maior de minha biografia
Alma gêmea em nosso recato
O filho poeta que pariu a mãe poesia

Soldado da Informação


Sempre quis ser um soldado
Para lutar e cumprir minha missão
Oferecer a vida com devoção
Pra fazer um mundo melhorado

Mas Deus me fez muito mais
Guiou-me na melhor direção
Tornou-me guerreiro da educação
Numa guerra que sonha com a paz

E o conhecimento me fez entrincheirar
Protegendo com honra os relicários
Onde as melhores armas vou usar

Lugar que do saber é o seu berçário
E o conhecimento proteger e disseminar
Muito prazer eu sou bibliotecário

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

RUMO AO ALÉM

Não é o caminho que decide a direção
Mas, a direção que faz o caminho.
Assim, te entrego meu amor com carinho.
Porque é o que pede meu coração

E como dois pássaros construindo o ninho
Faço de seus lábios minha devoção
E por teu olhar prostro-me em oração
E teus sorrisos consumo feito vinho

Para nos teus braços  longe poder chegar
Eternamente viajante dessa paixão
Doando-me cada vez mais pra te amar

Tudo em nome dessa nobre emoção
Do teu lado encontro meu lugar
E assassino outra vez a solidão

Banquete dos Zés

Canudo ligando fruto e boca
E a água sugada era o assassino
Testemunhou meus olhos de menino
O Escudo de minha barriga oca

A sede alheia era nossa companheira
Cúmplice da fome a nos torturar
O palco, o comércio da dona do bar.
Reuníamos numa algarobeira

Os cocos bebidos rolavam pro lixo
Jogado por um consumidor qualquer
Disputados por donos de buchos vazios

Tornava um banquete pra tanto Zé
Armados de tampinhas de garrafas
Partíamos o coco, almoçávamos com fé.

FRIEZA DA ALMA

A frieza não é irmã da solidão
Muito menos filha da hipocrisia
Também não é a mãe da heresia
Nem a senhora da ingratidão

É arma seduzida pela razão
Que penetra vidas sem vidas
Fazendo do estante sua guarida
Abolindo-se da amiga emoção

Com suas garras fere na entranha
E muda a forma de um ser
A alma ferida sente-se estranha

Sem saber como vai proceder
Em silêncio contempla a façanha
Quer preciso pra alguém entender

Rotina de Famingerados

  Lembro-me de minha rotina e meus sonhos, acordava as 6:oo da manhã ia para o casulo, antes comia aquele escaldado de leite com farinha ou uma farofa de óleo feita com colorau e cebolinha acompanhada de um café de Bajé de algaroba adoçado com rapadura, porque o açúcar acabara. Ao voltar tinha feijão com farinha pra comer fazendo macaco, com piaba assada ou preá torrado, mas disso eu já tava abusado, minha mãe então trazia leite pra eu comer com jerimum, mas eu também não queria e me amuava, e ela usava sempre a expressão: “o comer dos amuados, engorda os enjeitados” e dava meu comer pra outro.
     Eu queria outra coisa, queria picado ou buchada, e quando via que não conseguia começava a chorar, até que ela vinha me adular com farinha com açúcar ou ximbel, no entanto, minha raiva não deixava eu aceitar, então ia pra casa dos meus amigos e lá comia batata assada ou puxa-puxa de rapadura. Às vezes, quando as coisas tavam boas na casa do vizinho, comia fubá de farinha de milho ou doce de Bajé de algaroba, mas quando não tinha nada, pegava minha baladeira e ia pro mato, lá eu comia incor ou gogoia.
 De tarde quando voltava minha mãe fazia beijú no caco com farofa de leite para o lanche vespertino. Quando à noite chegava o quarenta já tava na panela, mas o fogo que fumaçava ainda estava preparando o café do meu pai pra ele levar pro minério, era um pão de milho feito numa cuscuzeira de barro todo enrolada num pano. Só que eu e minhas irmãs queríamos angu de xérem, o quarenta era salgado e a gente não gostava.
    Minha mãe sempre boazinha dizia: amanhã eu faço baião de dois, e assim nossa vida seguia. Nos finais de semana as coisas mudavam, no café tinha bolacha, para o almoço, as vezes quando tinha, minha mãe matava uma galinha e minhas irmãs já preparavam o cozinhado das tripas da penosa. A noite tinha cuscuz com coalhada, mas minha mãe ainda fazia uma cabeça de galo pra meu pai que chegava bêbado, e assim era nossa vida, só mudava nas farturas de milho e feijão, nesse tempo a briga era pra rapar o caldeirão da canjica, a pamonha dava um bucho inchado danado, mas eu não parava de comer, era tempo de mungunzá, de feijão verde com maxixe e quiabo na panela, de bucho realmente cheios.