sexta-feira, 28 de maio de 2010

negritude pobre

NEGRITUDE POBRE

Catarro descendo
Mosquito pairando
Feridas escorrendo
Piolhos coçando

Dentes cariados
Calos nas mãos
Tisnado nos braços
Amarrado o calção

Cabelos assanhados
Remela nos oio
Unhão arrancado
Vidinha que dói

Menino sem sorte
De bucho crescido
Lombrigas da morte
Dum nego desnutrido

De roupa de chita
Conjuntinho ganhou
Desfilando como artista
Roupa de defunto usou

Caderno novo que não veio
Pra o cotôco de lápis usar
A chinela que partiu no meio
E o pé no chão a espinhar

Uma árvore, doze casas.
Seus lares aconchegantes
Que abrigou em suas asas
A família de retirantes

Pobre mais muito feliz
Até o casal se separar
Por maldade infeliz
Que marcou o caminhar

O quarto mais novo
O único dos cinco
Seu pai foi seu povo
Que o criou no sinto

A mãe está cadáver
De tanto parir
É a fome que a bebe
E matar o existir



É irmão das vadias
Que o povo julgou
Que aceita os dias
Com honra e fervor

Maltrapilho da vida
Que por sina herdou
Bunda de mochila
Por ser nego ganhou

Vagabundo inocente
Que amor conquistou
Restinho de gente
Que o mundo espancou

Que não morre de medo
De fome ou de dor
Que desde bem cedo
Almoçou o favor

Conhece a tristeza
A paixão, o terror.
E canta a beleza
Da solidão dum amor

O corpo surrado
Da pisa da vida
Se encontra suado
Da longa partida

Não se enverga pra o tempo
Não tem tempo a perder
Vive a cada momento
Humildemente a aprender

Acredita no sonho
E lutar sem parar
Seguindo sozinho
Pra o mundo abraçar

Mas se um dia precisar
Se por acaso pretender
Eu posso te ensinar
A arte de vencer

Sem nenhum preconceito
Sem maldade a falar
Aprenda estufar o peito
E ao pobre respeitar



A vida da muitas voltas
E as coisas podem mudar
Quem ontem passou fome
Hoje pode te alimentar

Meu passado vive em mim
E nunca irei negar
Lágrimas que derramei por tiii
Um dia irás pagar

Que espere querida
A resposta outra vez
Você bem nascida
Filha da estupidez

Não chores querida
Olhe o dia que vem
Esteja mais linda
Meu presente do bem

Insista em viver
Assim como fiz
Esquecendo o sofrer
Disfarçando a cicatriz

Invista nos teus
Mas não seja vulgar
Agradeça a teu deus
Só ele pode te perdoar

Lino sapo, andrelino da silva ( 28/10/2008)

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