sexta-feira, 28 de maio de 2010

sobejo social

SOBEJO SOCIAL

Eram apenas seis irmãos
Quatro somente é que não
Unidos de acordo com a situação
Irmãos forçados pela condição

Na cor tinham as mesmas distinções
Quatro negros e dois bem clarões
Mas todos eram grandes irmãos
Sofrendo tudo de todos com união

Todos com a mísera fome de atenção
Vivendo a dor mortífera da submissão
Alimentados por uma falsa ilusão
Que deus quis essa desigual divisão

Assim era novinho, Naldo e Damião
Também Janailton, Jose e Imbigão
Todos os filhos sofridos de separação
Apostando em deus como única salvação

Mil bis é banda de contagiante animação
Junta todos num único sonho, os flagelados irmãos
De pau de pião, liga e folha de papelão
A bateria ritma com a percussão

No vocal canta Janailton e Imbigão
Para a guitarra, novinho e Damião
Na bateria Naldo toca com animação
Seguido por José embalando em sua percussão

A Rua Zé Timóteo é o lugar das reuniões
No mercado as grandes apresentações
Lugar em que a dor se faz musicalização
E no palco da vida apresentam-se os irmãos

Que canta com alegria e dedicação
Escondendo as cicatrizes das humilhações
Além de negros, bastardos e órfãos
Filhos de pais separados frutos de desuniões

Meninos grudentos de sonhos e paixões
Segurando as rédeas da vida nas mãos
E os carros de latas puxados por cordões-
Vai-se a doce meninice na isolação

Na escola se aprende a distinguir as lições
Honestidade, dignidade, verdade e comunhão
Trabalho árduo para suas ascensões
E fugir dessa regra todos concordarão

Da escola se sai para a ação
Menosprezando-se toda falsa educação
Rouba-se coco, umbu, pinha e melão
Jerimum, pepino, Bajé, milho e feijão

E o sistema se constrói com nossa maldição
Pobreza aguda causa muita destruição
Os filhos da rua andam na contra mão
Todas as mães choram sem haver solução

Nazaré, Ana, as Maria, Damiana sofrem de aflições
Vendo os filhos sobejo da capitalista nação
Anestesiada com as dores da indignação
Misericórdias para deus pedem em orações

Melhoria para o ano, pois terá eleição
E o sonho de vida nova enche o coração
O tempo passando cresce os irmãos
Vivendo entre a escolha do sim e do não

Há tempo a banda entrou para as recordações
A vida acabou separando os irmãos
Entre os seis nenhum vínculo de união
Separaram-se todos seguindo suas ambições

Janailton, o líder deixou de ser chefão
Negro, pobre, caminhou sem direção
Hoje é evangélico se tornou verdadeiro irmão
Agora só canta para o Deus da salvação

Naldo por sua bateria não faz mais questão
Virou jogador de futebol jogando um bolão
Mais por um casamento deixou a profissão
Hoje vive trabalhando para alimentar o filhão

José, o Zé priquito ritimiza em outra direção
Os calos das mãos não são das percussões
Tornou-se vaqueiro andando de vaquejada e bolões
Casou-se também, coleciona troféus e é um grande campeão

Ronivaldo o novinho teve a mesma missão
Casou teve filhos, mas não separou do alazão
Já correu mais José em diversos bolões
Feliz do que tem vive como e entre os peões

O confuso de todos sempre foi Damião
Disposto pra tudo é mestre em enrolação
Com esposa e filha vive com satisfação
Virou evangélico e moto taxi é sua viração



Andrelino ou Linosapo é o antigo imbigão
Investiu sua vida no campo da educação
Solteiro é poeta, historiador e cientista da informação
E entre uma carona e outra faz sua formação


Os seis cresceram em abundante marginalização
O tempo porem mudou suas situações
E no jogo da vida acabou vencendo os irmãos
E nenhum foi morar como se esperava na prisão

Cachoeira do sapo foi o berço dessa união
Parnamirim, Riachuelo e em Japeganga eles estão
Natal também participou dessa divisão
Mas no coração de cada um, para sempre unidos estarão.





EM MEMÓRIA DESSES AMIGOS

Janailton : fia ou alex
Naldo: cural
Ronilvaldo: novinho
Damião: bolão
José: cabeça de navio ou Zé priquito
Andrelino: imbigão ou explicativo


Que nossos filhos não esqueçam jamais quem foram e como viveram seus pais, e que em cada um de nós, permaneça o respeito e o exemplo de que é possível vencer na vida, se curvando unicamente para Deus, aquele que nunca nos abandonou em nenhum momento.


Lino sapo : 02/04/2009

Para os meus amigos e irmãos de infância, hoje tão distante.

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