sexta-feira, 28 de maio de 2010

coisas do sertão de antes 1

Coisa do sertão de antes

Sou do tempo que Fanta era Remédio;
Sabonete presente de Aniversário;
Rapa de Juá era Xampu;
Que sandália Havaianas era chinela Japonesa;
E quando velha tinha apetrecho
Uma correia de outra cor ou
Um arame amarrando o pitôco do cabresto.

Sou do tempo que banheiros eram de palhas de coqueiros;
E as telhas da cozinha pretas da lenha queimada no fogão;
Sou do tempo que prato era lata de goiabada;
Do tempo que cafeteira era bule;
Que lençol, pano de prato, toalha e coador de café
Eram de sacos de açúcar.

Sou do tempo que toda casa tinha um pote de barro
E um coador d’água;
Um palanque, um banco e uma lamparina;
Um pinico debaixo da cama;
Do tempo em que espantava muriçoca
Queimando bosta de gado ou bucha de coco.

Do tempo que toda casa tinha um pulêro;
Do tempo em que moia o milho para fazer o pão;
Do tempo em que bica era de lata de óleo;
Que a cisterna era um tambor no oitão da casa;
Que leite de avelóz era cola;
Que vassoura era de vassourinha.

Que vidro de desodorante era enfeite;
Que o pão era enrolado em papel;
Que menino novo vinha de avião;
E bicho papão pegava menino;
Do tempo em que passava álcool em catapora;
Que arrancava dente com linha de algodão.

Do tempo que bandaid era folha de mato verde;
Sou do tempo de tertulha e assustado;
Que o lanche da hora era refresco com Dalila e pão doce;
Que caminho era vareda;
Que creme para axilas era limão nos sovacos;
Que vacina era injeção.

Que sexo era cabimento, transar era pimbar;
Que menino sujo era grudento e
Quando cheirava mal fedia a tampo;
Que pum era peido;
Que concha era quenga de coco;
Do tempo que copo era caneco.



Que facheada era com piraca;
Que creme para cabelo era óleo de coco;
Que toda casa tinha um pau de galão;
Um motor rádio sintonizado na rural;
Cabugi ou araruna;
Sou do tempo dos repentistas.

Do tempo que o colégio era grupo; e
Que cabaré era curral de jumenta;
Do tempo que diarréia era difrusso;
Que prótese dentária era chapa;
Que papel higiênico era sabugo;
Que o aveloz era banheiro.

No tempo em que guardava roupa em mala;
No tempo em que rapaz chique
Andava com pente e espelho no bolso;
No tempo que beijo era cheiro;
Amar era querer bem;
Flores eram rosas

Traição era chamego
Sapo era cururu;
Do tempo em que fumo era de rolo;
E cigarro era brejeiro;
Que menino grudento se esfregava com caco de telha;
E carro de brinquedo era feito com lata de sardinha
E os pneus com chinela japonesa.

Do tempo que elástico era de liga de câmara de ar;
Roupa era de chita;
Que banho era de cuia;
Que brincadeira de criança era tô no poço;
Que mingau era de araruta;
Que se tomava água de cabaço.

Que homem mal era malfazejo;
Que lixeiro e munturo era sisqueiro.
Que cama, era de vara e o colchão de junco
Que casa era de taipa,
Que tinha na sala enfeitado um monte de fotos de candidato apregado com sabão.
Sou do tempo do voto de favor

Do tempo que burro tinha valor,
Que andava com caçuar, barrie, cambinte,cangaia e rabichola.
Sou do tempo de bacurau e arara,
Que andava com uma árvore nas costa acompanhando a passeata.
Sou do tempo de metiolate e confeito xaxá
Do tempo das frentes emergenciais,
Do feijão duro na queda e do burgô.





Sou de um tempo que as roupas tinham remendos,
Que passavam pernas de veado pra os meninos andar ligeiro,
e água de chocalho para falar rápido.
Que brinquedo bom era cavalo de pau.
Sou de um tempo que os meninos andavam nu ate aos 10 anos.
Que as meninas passava cebola nos peito pra crescerem.

Do tempo que no são João o forró era de sanfona,
E as fogueiras queimavam até o outro dia,
Depois de ter assado muito milho e feito muito batizado.
Tempo em que se usava chapéu de palha,
Sabão de coco pra tomar banho
Sou do tempo de apragata de sola

Que debulhava feijão no cacete,
Que menino novo tomava banho em agridar.
Sou do tempo de garfo marfim,
De lobisomem e saci pererê.
De ferro a brasa.
Sou do tempo da hora pelo sol

Sou de um tempo em que havia respeito,
Que menino não passava em meio de pessoas que estavam conversando.
Nem se metia na conversa.
Que se tomava a benção aos mais velhos.
E que na escola, castigo era ajoelhado em cima de milho.
Sou do tempo do tempo que não volta mais


andrelino da silva ( lino sapo)

Um comentário:

  1. Muito bom, gostei muito, pois me lembrou do tempo em que eu usava calça farwest e cortava o meu cabelo militar...Mas que ficava so a tirinha em cima. Eu estudei no Grupo Escolar Jose de Barcelos em Camocim, obrigado por me fazer lembrar.

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